Tutty Vasques um dia disse que “se antes o problema era a
invasão de privacidade, agora é a evasão“. Quanto mais tempo
online, mais compartilhamos aspectos das nossas vidas. Mas por quê? Qual o
limite entre o que é privado e público? O que pode ou não compartilhar? O que
irrita os usuários no mundo do oversharing online? Estamos nos expondo demais?
O que é normal? O que é além da conta? Qual o sentido da vida?
Pra resposta dessa última pergunta, sugerimos que você pegue
uma toalha no armário e dê um Google. Mas pra
tentar entender todas as demais questões, realizamos uma pesquisa, o youPIX Tank,
com 422 jovens com média de idade de 25 anos e superheavy users de internet –
58% passam mais de 9 horas por dia conectados.
Dando uma olhada no resultado da pesquisa, percebemos que a
galera vive numa espécie de limbo. Quando se presencia o exato momento da
quebra de algum paradigma, e a vida online quebra uma porção deles, fica
difícil definir o que é certo ou errado. E justamente por não existir nenhum
tipo de guia para determinar o que é adequado postar no mundo online é que
questionamos o que vale a pena compartilhar nas redes sociais.
Falar do seu relacionamento no Facebook é
normal? Pode reclamar do trabalho? É aceitável que seu chefe monitore o seu Twitter? Fazer
check-in nos lugares que você costuma frequentar é #sussa? E quanto às fotos,
pode foto de lingerie? E de maiô no Instagram?
Mensagens religiosas vão bem, ou é melhor evitar? E falar sobre doença na
família? Hábitos de compra? Seu humor naquele momento?
Os resultados dessa pesquisa você acompanha a seguir. E pra
nos ajudar a entendê-los, convidamos vários especialistas em cultura digital e
comportamento online, que comentaram os pontos mais marcantes da pesquisa. Dá
uma olhada!
*“As
pessoas começaram a compartilhar nas redes o que antes guardávamos a sete
chaves: a intimidade. Mas não quer dizer que expor seja algo errado. O único
problema é que quem está compartilhando as informações não tem condição de
avaliar o que é de fato importante mostrar para o outro. Será mesmo que as
pessoas estão compartilhando informações na rede porque acham “normal” ou
porque isso se tornou algo “comum”? As pessoas dizem compartilhar por querer
dividir a vida com outras pessoas, mas elas realmente estão mostrando a
verdade? Até que ponto você não está criando molduras para que sua história de
tragédia faça sucesso na rede? O que me parece é que as informações
compartilhadas são selecionadas, ninguém gosta de contar história de fracasso.” Cristiano Nabuco, psicólogo e Coordenador do Grupo de Dependência de Internet do
Hospital das Clínicas
**“As pessoas compartilham tudo
porque todos estão compartilhando tudo. Querem fazer parte, não querem fi car
para trás. E por isso emulam. E copiam. Elas não sabem dizer por que fazem as
coisas, porque apenas seguem. São clicadores, são seguidores, são apertadores
de botão. Fazem coisas sem parar para pensar. Primeiro porque não querem
pensar, segundo porque nem querem parar. Estamos automatizados. Como eu li
outro dia, somos vegetais que
clicam. As pessoas compartilham tudo porque precisam ter certeza de que elas
existem. E de que são merecedoras dessa existência. E para que sua existência
tenha aprovação, elas precisam ser vistas. Por isso se expõem. Para que alguém
olhe pra elas. E aplauda. Ou, pelo menos, sorria.” Rosana Hermann, jornalista, professora da FAAP, Gerente de Inovação do portal R7
e blogueira do Querido Leitor
***ESSE DADO PODE INDICAR DUAS
POSSIBILIDADES a) que
as pessoas têm motivos muito diversos pra compartilhar informações (o que
também mostra que o nível de reflexão a respeito não é tão profundo) ou que, na
realidade, elas não sabem por que compartilham. b) os
pesquisadores não contemplaram as respostas corretas.
* ”Precisamos
de um novo conceito sobre privacidade, porque aquele que servia para o tempo
dos nossos avôs já está obsoleto. Da minha parte, tenho vivido nos últimos
cinco anos com a consciência de que já não existe mais privacidade em um mundo
cada vez mais transparente.
Na Era do Conhecimento, toda informação em
movimento é valor. Com isso, toda tecnologia conspira para que tenhamos uma
vida cada vez mais pública. Câmeras de segurança registram nossos movimentos
dentro e fora de qualquer lugar da cidade. Cada item que consumimos deixa algum
tipo de registro em nosso prontuário. Mesmo nossas informações mais sigilosas
são controladas pelo governo. Sem paranoia nem exageros, mas já estamos de
bunda de fora há mais de uma década!
Creio que não se trata mais do que queremos
manter oculto, mas sim de quem queremos esconder, e quando. A gestão da
privacidade está se tornando uma atividade constante na vida de todos nós.
Manter senhas ocultas, dados preservados e informações trancadas passa a ser um
hábito em nosso cotidiano.
Estamos aprendendo a trazer nossos cadeados
de aço, janelas gradeadas, cercas eletrificadas e alarmes de presença da vida
real para nossos ambientes digitais. Mesmo sabendo que nenhum muro de átomos ou
de bits é alto demais que não possa ser transposto, seguimos insistindo em
mecanismos de defesa e controle de acesso.
E então temos um paradoxo. Em uma rede que
foi criada para o compartilhamento, cada vez mais nos preocupamos com a
retenção das informações. Cabe aqui uma provocação: por que não ter uma
vida transparente? Qual o problema de assumir nossas mais obscuras condutas
diante de todos? Qual seria o efeito revelador do dia a dia de todos nós
exibido em alta definição para qualquer um no mundo ver?
Em uma utopia hacker, eu diria que seria o
fim da hipocrisia, das máscaras e dos fingimentos. Tememos o fim da privacidade
por achar que os desonestos tirariam enorme proveito disso; entretanto, talvez
no limite do fim do sigilo esteja o início do caminho que pode levar à ética e
à honestidade. E você, o que tem a esconder, amigo?” Luiz Algarra, consultor para inovação e ativação em redes sociais e fundador
da Papagalis
* ”Isso faz
parte da nossa mania nacional de passar sempre a impressão de ‘tudo bem? tudo
ótimo!’. Mesmo que alguém resolva expor seu lado B, a reação geral há de ser de
alergia contra mimimis alheios. Nós nunca conhecemos ninguém que levou porrada,
somos campeões em tudo. A mesma neura com ‘estar bem na foto’ faz com que
empresas se espantem quando alguém, com direito ou não, bota a boca no
trombone. Muitos consumidores já perceberam essa fraqueza e fazem o que podem
para assustar empresas e marcas indiscriminadamente, sem medo de serem
enquadrados, expostos ou até mesmo processados por difamação. Em suma, como
bons brasileiros, estamos todos mais preocupados com a bela fachada do
que com transparência.” René de Paula Jr, diretor de New Business
na CUBOCC e blogueiro
** ”A
questão da privacidade nesse sentido é bem subjetiva. Basicamente, desde que
não haja prejuízo a terceiros e ações contrárias às leis, cada pessoa se
comporta como bem entender. Publicar fotos pessoais de viagem ou de biquíni é a
coisa mais normal do mundo (o que há de anormal?), mas existem pessoas que
escolhem não publicar, o que é normal também. A minha opção pessoal é
compartilhar cada vez menos coisas pessoais, uma vez que não me interessa a
opinião alheia, e cada vez mais questiono o quanto a vida alheia é interessante
o suficiente para ser compartilhada aos montes. Mas eu respondo por mim. Mas o
que talvez essa pesquisa revele de mais interessante é como as pessoas se acham
no direito de legislar sobre a vida alheia.” Ian Black, blogueiro e CEO da agência
New Vegas
*** 71% NÃO CONCORDAM COM O
MONITORAMENTO DAS REDES SOCIAIS PELAS EMPRESAS
“A regra é simples: o que está na rede é
público e deve poder ser visto por qualquer pessoa. O filtro do que vai ou não
para a rede deve ser anterior e feito de forma a manter um equilíbrio saudável
entre exposição e privacidade. Nessa linha, indivíduos são responsáveis por
fazer escolhas que mantenham esse equilíbrio, que se traduz em ter noção do que
pode, do que deve e do que não deve ser público. Quando se entende que essa
escolha é na verdade um conjunto de decisões do indivíduo, ele pode retomar o
controle entre pessoal e profissional utilizando a presença nas diferentes
redes de forma adequada ao propósito de cada uma delas.” Maíra Habimorad, sócia-diretora do Grupo DMRH, empresa que seleciona talentos
“Essas não são as informações que mais irritam apenas em
redes sociais, esse é o tipo de coisa que irrita na vida. Quem nunca trocou de
calçada quando viu um fanático religioso logo à frente? Quem nunca perguntou
pra um amigo qual a relevância do que ele estava compartilhando sobre sua vida
íntima? Sobre autoelogio, nem preciso comentar quantas vezes não saímos de
perto daquele cidadão cheio de si, né? :) Na rede tem alguns agravantes com a
pessoa estar em casa sozinha e não perceber que, quando escreve nas redes
sociais, não está falando sozinha, ela está obrigando todos os seus contatos a
consumir aquele conteúdo. E nas redes você também não pode simplesmente sair da
sala. Seus amigos estão todos na mesma timeline, e se você ‘mutar’ o coleguinha
chato acaba silenciando ele pra sempre, o que muitas vezes é o que fazemos de
diversas maneiras (mute, block, unfollow, unfriend, filter, …).” Edney
Souza, VP de Publishers da Boo-Box, blogueiro, professor de mídias sociais e
cocurador da área de Social Media da Campus Party Brasil
Fonte:YouPix
Nenhum comentário:
Postar um comentário